"Perseguidos
sem direitos nem escolas
Como
podiam registrar as suas glórias
Nossa
memória foi contada por vocês
Por
isso temos registrados em toda história
Uma
mísera parte de nossas vitórias"
(Natiruts- Palmares)
O curta metragem “O
xadrez das Cores”¹ nos mostra uma realidade nada distante nos dias de hoje. O
negro é discriminado seja para uma entrevista de emprego, ou por estar
dirigindo um carro importado. Somos seres humanos, como alegar inferioridade e/
ou incapacidade pela cor? Que mundo é esse? O problema é: de histórias mal
contadas pelos registros: “Mísera parte de nossas vitórias” eu diria que
nenhuma vitória foi redigida, foram pessoas tratadas de nenhuma forma
humanitária, pela diferença de cor. Pessoas hoje que levam essas marcas. Um
dia, não representa o que eles passaram, lutaram, sofreram e morreram
injustamente! Que vida é essa que levamos? Uma sociedade que estipula a
quantidade de pessoas negras que vão trabalhar determinada empresa. É dizer que
tudo está resolvido com uma data comemorativa ou cotas.
O que difere de um
branco para um negro? A tola história de os brancos serem os heróis e os negros
os vilões? Assim aprendemos na escola. E interpretamos apenas o que está nos
registros, mas eu diria ao contrario, afinal quem criou toda essa comparação e
inferioridade foram os brancos. Vimos que muitos dizem que não tem preconceito,
mas uma atitude já pode ver a discriminação e o racismo das pessoas, quando uma
pessoa negra se senta e a outra logo levanta sem motivo, ou dentro da escola/
faculdade. O preconceito está no mundo e ainda temos essa concepção de sermos
os bons mocinhos?
Como podemos ver no
curta metragem, a senhora reconheceu quem realmente se preocupava e queria seu
bem (ao ministrar os remédios). Que em um jogo de xadrez as peças consideradas
pela senhora “peão” se surpreendeu ao descobrir isso de uma “empregada negra”.
Só quando a empregada dispensou o emprego que a senhora conseguiu enxergar que
a empregada é um ser assim como ela muito melhor que ela mesma!
O curta metragem nos
mostra o quão PESSOA é a empregada negra, quanto aquela senhora. Uma pessoa que
se preocupava e cuidava dela apesar de todas as ofensas e racismo. De
surpreender no jogo de xadrez que a peça considerada “peão” pela senhora, podia
crescer e virar uma rainha no final do tabuleiro. Inesperadamente conhecendo
essa façanha do jogo pela sua “empregada negra”. Apesar de todos os dizeres da
senhora, a empregada demonstrava amor
pelo seu trabalho e cuidado. E conseguiu mostrar que ela também é um ser
humano. Quando vamos ter uma sociedade mais humanitária? Se quisermos podemos
mostrar a verdadeira história que nos não aprendemos na escola.
“Crianças
não nascem más
Crianças
não nascem racistas
Crianças
não nascem más
Aprendem
o que a gente ensina...”
(Natiruts
– Quem planta o preconceito)
"Maria
Maria, um simples nome de mulher
Corpo
negro de macios segredos, olhos vivos
Farejando
a noite, braços fortes trabalhando o dia.
Memória
da longa desventura da raça,
Intuição
física da justiça.
Alegria,
tristeza, solidariedade e solidão.
Uma
pessoa que aprendeu vivendo
E
nos deixou a verdadeira sabedoria:
A
dos humildes, dos sofridos,
Dos
que tem o coração 10
maior
que o mundo.
Maria
Maria nasceu num leito qualquer de madeira.
Infância
incomum, pois nem bem ela andava, falava e sentia e
Já
suas mãos ganhavam os primeiros calos de trabalho precoce.
Infância
de roupa rasgada e remendada, de corpo limpo
e
sorriso bem aberto. Infância sem brinquedos,
mas
cheia de jogos aprendidos com as velhas
que
lavavam roupas nas margens do Jequitinhonha.
Infância
que acabou cedo, pois já aos 14 anos,
como
é normal na região, ela já estava casada.
Do
casamento ela se lembra pouco,
Ou
não quer muito se lembrar.
Homem
estranho aquele a lhe dar
Balas
e doces em troca de cada filho.
Casamento
que em seis anos,
seis
filhos lhe concedeu.
Os
filhos se amontoavam nos quatro cantos da casa.
Enquanto
ela estendia a roupa na beira dos trilhos,
os
seis meninos sentados brincavam na terra fofa.
Os
seus olhinhos de espanto não entendiam nada.
De
repente, notícia vinda dos trilhos.
Maria
Maria era viúva.
Pela
primeira vez a morte entrava em sua vida
E
vinha em forma de alívio. E de retalho em retalho
Maria
se definiu: solitária, operária e brincalhona.
Ela
pode ao mesmo tempo
Ser
Maria e ser exemplo de gente
Que
trabalhando em todas as horas do dia,
Conserva
em seu semblante
Toda
pura alegria, de gente que vai sofrendo
E
quanto mais sofre, mais sabe.
(Poesia Maria,
Maria – Milton Nascimento)"
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¹ Curta
metragem “O Xadrez das Cores” Disponível em: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=NavkKM7w-cc
Acesso 27/11/2012
²
Nascimento,Milton. Maria, Maria. Disponível em:
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